Conselheiros se reúnem para discutir o futuro da UFSC após a pandemia
Na última quinta-feira (23 de abril), nove representantes dos TAEs no Conselho Universitário reuniram-se para discutir questões ligadas à atuação dos técnicos. Além da possibilidade de implementação do sistema de EaD para a continuação do semestre, os conselheiros também conversaram sobre a suspensão do calendário acadêmico e um possível cancelamento do semestre, caso o cenário de pandemia persista por mais alguns meses. A reunião ocorreu virtualmente, para garantir o distanciamento social fundamental neste momento.
Durante as discussões foi citada a importância de dialogar com docentes e discentes, categorias que também serão diretamente afetadas por uma eventual implementação do sistema de ensino à distância na UFSC. A realidade dos estudantes, professores e trabalhadores técnicos da universidade é muito diversa, temos colegas com dificuldade para realizar trabalho remoto pela falta de estrutura (equipamentos, internet). A realidade estudantil também se mostra muito diversa, muitos estudantes vivem em condições de vulnerabilidade, agora, potencializada pela situação de pandemia. É impossivel forçar um retorno à “normalidade” quando essa é a realidade de boa parte da comunidade acadêmica. A implementação do EaD nesse momento foi rechaçada por todos os presentes, por considerarem que essa modalidade de ensino precariza a docência e prejudica aqueles alunos em situação mais vulnerável, que por não ter acesso às tecnologias necessárias acabariam se afastando da Universidade. Teríamos um retorno à época em que as universidades públicas eram exclusividade da elite que tinha condições financeiras para garantir o acesso e permanência de seus jovens (atualmente mais de 50% dos estudantes da UFSC são pessoas que vivem com até 3 salários mínimos por família).
Quanto à suspensão do calendário acadêmico, os cenários previstos pela Reitoria foram apresentados durante audiência pública convocada pelo DCE, e seriam de 30, 60 e 90 dias de suspensão e de necessidade de distanciamento social. Considerando estes cenários, seria possível a manutenção do semestre, somente alterando o calendário e ocupando férias e dias não letivos para a realização de aulas presenciais. Essa é a medida que vem ocorrendo, a Reitoria emite portarias determinando a suspensão e ao final do prazo dado avalia se é necessária a prorrogação. Os conselheiros presentes entendem que antes de julho não será possível um retorno às atividades presenciais, e se posicionaram pela manutenção do distanciamento social como único modo de garantir a saúde e a segurança de toda a comunidade acadêmica. O cancelamento do semestre, por sua vez, teria implicações ainda maiores para os estudantes e para a Universidade, que poderia ter seus recursos cortados pelo governo, por exemplo. Muitos estudantes precisam se formar para garantir emprego. Para os conselheiros, é importante começar a pensar no próximo semestre, como se organizaria, de que maneira seria possível o retorno das atividades. O ensino à distância seria a única alternativa? De que maneira o EaD seria implementado? Alcançaria à todos? Qual seria o impacto na rotina dos trabalhadores da Universidade?
Para discutir todas essas questões, os presentes entendem que é necessário um grupo de trabalho que discuta a posição da Universidade frente à pandemia. Este grupo deve agir de forma absolutamente transparente e ter suas decisões amplamente divulgadas. Deve, ainda, ser formado pela administração central e entidades representativas das categorias, além de representantes da comunidade acadêmica. É necessário que este grupo faça uma análise profunda sobre o calendário acadêmico em 2020/1 e as condições de ensino para os próximos meses. Uma comissão formada somente por gestores não pode decidir sozinha os rumos de toda a sua comunidade, sem ouvir todos os envolvidos, sem buscar entender de que maneira trabalhadores e estudantes serão afetados. A participação de todos é fundamental para a manutenção da Universidade como um espaço democrático e para que o retorno às atividades seja feito de uma forma humanizada, inclusiva e em acordo com o bem da sociedade. A Universidade tem um papel fundamental durante a pandemia, seja ajudando na criação e produção de equipamentos e materiais necessários ao combate da doença, participando de grupos internacionais de pesquisadores que discutem quais as melhores formas de lidar com o vírus e buscam a criação de uma vacina, mas principalmente dedicando toda sua atenção ao Hospital Universitário, onde boa parte dos trabalhadores da Universidade segue na linha de frente. Mais do que nunca, a universidade federal precisa retomar seu papel de instituição alinhada às necessidades da sociedade e não sujeita ás pressões econômicas e de produtivismo.
Nesse sentido, os conselheiros e conselheiras abaixo assinados enviaram e-mail à Reitoria cobrando uma posição da Administração Central frente aos cenários de suspensão do calendário acadêmico e cancelamento do semestre, bem como em relação à possibilidade de implantação de EaD na UFSC. Também foi encaminhado e-mail ao grupo de todos os Conselheiros, nos posicionando pela ampliação do grupo de trabalho às entidades representativas. Estamos em contato também com representantes docentes e discentes para ouvir o que estas categorias tem a dizer.
Assinam os Conselheiros:
Antonio Marcos Machado
Camilla Ferreira
Gustavo Alexssandro Tonini
Eduardo de Mello Garcia
Humberto Roesler Martins
Iclícia Viana
Karine Albrescht Kerr
Larissa Regina Topanotti
Lucas Pereira da Silva
Micael Salton
Sandra Regina Carrieri de Souza
Tiago Pasito Schultz
* Essa nota, bem como todos os outros documentos citados ao longo da mesma, apresenta as avaliações e análises acordadas pelas pessoas que assinam.